São Paulo recebe encontro latino-americano do OpenStreetMap

São Paulo abrigará de 25 a 27 de novembro o State of the Map Latam, encontro anual de mapeadores e usuários do OpenStreetMap em toda a América Latina. Organizado pela própria comunidade que produz e atualiza o mapa mundial aberto e livre, o evento será um espaço para debates sobre dados abertos, georeferenciamento de informações, uso de novas tecnologias e aplicativos e construção de bens públicos digitais. A programação ainda não está definida, mas no site do evento já é possível se inscrever e garantir uma vaga (as atividades são todas abertas e gratuitas, mas há limitação do número de inscritos.

Trata-se da segunda edição do encontro. A primeira aconteceu em setembro de 2015 no Chile. As atividades, que incluem workshops sobre mapeamento, palestras e painéis, além de mapatonas, acontecem em dois locais distintos na região central de São Paulo. Nos dias 25 e 26, serão na Biblioteca Mário de Andrade, e, no dia 27, no Mobilab, laboratório de mobilidade urbana mantido pela Prefeitura de São Paulo.

O OpenStreetMap é um mapa colaborativo aberto criado e mantido por diferentes comunidades de todo o planeta, por meio de uma estrutura radicalmente democrática e transparente. Tem como princípio básico o compartilhamento livre de informações, permitindo acesso sem custo a informações sobre a geografia e localização de diferentes países e regiões.

Sobre mapas abertos, leia também:
Mapatona de Ciclovias
Mapeamento ativo das cidades
Como mapear infraestrutura para bicicletas?
Como nomear ruas no OpenStreetMap a partir de mapas do IBGE
Ajude a mapear lugares acessíveis para cadeirantes

Como nomear ruas no OpenStreetMap a partir de mapas do IBGE

O iD, principal ferramenta de edição do OpenStreetMap, agora permite a exibição de uma camada de logradouros do IBGE. Com ela é possível saber nomes de ruas da maior parte das áreas urbanas do Brasil. Tal novidade existe graças a um trabalho da comunidade do OpenStreetMap de transformação de arquivos .pdf publicados pelo IBGE para o censo de 2010.

Para usar a camada, abra o editor iD na região em que quer mapear e clique em “Configurações da imagem de fundo”:

Selecione a camada “IBGE Mapa de Setores Urbanos”:

Agora a camada base será parecida com esta:

Pronto, com este mapa é possível completar nomes de ruas em localidades pouco mapeadas. Confira algumas recomendações para evitar erros:

  • Não desenhe geometrias baseando-se apenas nesta camada, pois ela não possui alinhamento correto na maioria dos locais;
  • Use a tag ‘source=IBGE’ no elementos editados para informar que os dados vem do IBGE;
  • Caso o mapa já contenha informações, verifique se estas vem de fontes melhores do que o IBGE.

Mapeamento ativo das cidades

O esforço de conhecer e melhorar as cidades tem grandes aliados ainda pouco explorados. Um deles certamente é o mapeamento colaborativo. Para além do aspectos técnicos de como realizar o levantamento de dados e a compilação deles no Open Street Maps (OSM), um aspecto fundamental está no prazer de somar-se a um esforço coletivo global de milhões de pessoas em mapear o planeta.

Organizada pela Código Urbano, a primeira maratona de mapeamento de infraestrutura cicloviária da cidade de São Paulo (Mapatona) aconteceu em 18 de janeiro de 2015. Como era de se esperar, estavam presentes quem pedala por prazer, esporte ou que nem ao menos pedala, mas quer uma cidade mais amigável à bicicleta.

Como bem ressalta a equipe da Código Urbano, dentro do processo de mapeamento oficial da infraestrutura cicloviária de cidade, houve progresso. Um mapa de ciclorrotas chegou a ser feito, com base em um levantamento de caminhos cicláveis, alguns deles tendo inclusive sido sinalizados. O problema é que esse conhecimento não pôde ser usado em outras plataformas além do papel, ou um arquivo fechado em formato PDF. Atualmente o que se tem consolidado para a circulação de bicicletas está organizado na plataforma Google, um dado público entregue a uma empresa privada, mas ainda assim visualizável e editável de maneira mais fácil.

Um mapeamento mais completo capaz de corrigir distorções só é possível de ser feito através de uma comunidade de pessoas engajada e comprometida. Foi essa primeira pedalada dada na Mapatona.

Nas ciclovias de São Paulo, por exemplo, é possível pensar em identificar quais são as vias de mão dupla e quais não são, uma informação básica, mas que não está disponível no mapa oficial. Ou ter um mapa dos buracos e obstáculos, facilitando para o próprio poder público a identificação dos trechos que precisam de reparos e melhorias. Ou identificar subidas.

É hora de aproveitar o momento de abertura da administração municipal, consolidar o que já foi feito, cobrar melhorias, trazer um diagnóstico da cidade da perspectiva de quem pedala. Um intercâmbio entre as ruas e os gabinetes através de um esforço público. Transparência é o conceito chave e o primeiro passo é ter os dados expostos para quem tiver interesse em conhecer.

São provocações e pressões ativas na melhoria institucional dos órgãos de execução e gestão do poder público através de uma sociedade civil que zela e defende seus interesses dentro de um modelo de participação cidadã do século XXI.

Ações individuais são fundamentais, mas sem o amparo de um pensamento e engajamento coletivo, os esforços individuais tendem a se transformar em disputas destrutivas. A colaboração transparente de diversos atores é portanto a base de uma nova e necessária democracia. Em tempos de crise de representatividade, é preciso deixar de lado os líderes mágicos e agregar esforço para fortalecer instituições. Justamente por isso, o fortalecimento de uma plataforma de mapeamento é portanto um esforço de consolidação democrática do Brasil.

Para conhecer mais:

Vale conhecer antes de mais nada o site da Código Urbano e também as iniciativas presentes na Mapatona: HackAgendaPedalaSampaCiclocidadeMobilizeBicidade; Transporte Ativo; e BikeIT!.

Dos projetos dos próprios participantes, destaque para o BikeIIT! e os mapas colaborativos da Transporte Ativo. Vale destacar ainda outras iniciativas interessantes de mapeamento: Wheelmap.org; Cyclestreets.net; Ridethecity.com; Mapazonia.org e Grelhas Assassinas em São Paulo.

Como colaborar no mapeamento da sua cidade

Para além da fronteira municipal da paulicéia pedalável, a contribuição ao mapeamento colaborativo pode ser feita em qualquer local do planeta. Cidade, campo, bairros consolidados ou comunidades precárias.

A receita de bolo é, não necessarimente nessa ordem, ou em qualquer ordem de acontecimentos:

  • fazer um cadastro no Open Street Maps,
  • consultar a plataforma Wiki, em especial o conteúdo sobre bicicletas
  • Traduzir os textos do Inglês na página Wiki do OSM (?)
  • Editar o mapa para incluir o que falta,
  • Sair a campo para refazer traçados (?)
  • Fazer um levantamento fotográfico colaborativo através do Mapillary.

Como grande vantagem em qualquer plataforma colaborativa, está o fato de que toda contribuição, por menor que seja, é relevante.

Um pequeno exemplo do potencial de um cidade mapeada por ciclistas

Toda reivindicação em relação ao poder público ganha força com o uso de imagens. A solução encontrada para o estacionamento de ambulâncias de um hospital privado no espaço público das ruas foi certamente inadequada para o melhor interesse dos ciclistas.

Ainda assim, é possível também inspirar o mundo através de um passeio em bicicleta.

Façamos o mapeamento, por cada vez mais infraestrutura de qualidade com mais pessoas em bicicleta mais vezes.

Texto originalmente publicado pela Transporte Ativo e reproduzido com autorização do autor.

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